Brasil e Índia: Dois Caminhos, Uma Lição

Reflexões sobre tecnologia, estratégia e propósito

Por Marconi Fabio Vieira, PMP®

Introdução: Entre pontes e propósitos

Em uma das muitas voltas da vida profissional, recebi em 2008 um convite inesperado, mas que ecoa até hoje em meu coração: publicar um artigo na revista Projects & Profits, da Icfai University Press, em Dehradun, Índia. O artigo, intitulado “Communications Management Using Project Websites”, nasceu como fruto de uma palestra que ministrei no PMI Global Congress Latin America, e acabou me conectando de forma profunda com um povo, uma cultura e uma nação pela qual tenho um carinho especial: a Índia.

Mais de uma década depois, olho para essa experiência e percebo que ela foi mais do que uma realização profissional — foi uma semente profética. A Índia, com todos os seus contrastes e complexidades, tornou-se uma das maiores potências globais em tecnologia da informação e, mais recentemente, em inteligência artificial.

E o Brasil? Nós também temos talentos, centros de excelência e paixão por inovação. Mas por que não seguimos o mesmo caminho? O que podemos aprender com essa história?

A visão da Índia: tecnologia como projeto de nação

Desde os anos 1980, a Índia decidiu que a tecnologia não seria apenas uma ferramenta, mas um eixo estratégico de transformação social, econômica e cultural. Ainda sob o governo de Rajiv Gandhi, começou um movimento que culminaria na criação e fortalecimento dos IITs (Indian Institutes of Technology), que se tornaram referência mundial em formação de engenheiros, programadores e cientistas.

A Índia não apenas formou talentos — ela os lançou ao mundo. CEOs como Sundar Pichai (Google), Satya Nadella (Microsoft) e Arvind Krishna (IBM) são rostos globais de uma formação profundamente enraizada em matemática, lógica e disciplina acadêmica.

Com o tempo, vieram os centros de outsourcing, as startups, os polos de inovação em Bangalore e Hyderabad, os institutos de pesquisa, os planos de IA aplicada à agricultura, saúde e educação. A Índia tornou-se, com humildade e estratégia, uma voz influente no cenário da inteligência artificial ética, acessível e inclusiva.

O Brasil: excelência em bolsões, mas sem projeto unificado

O Brasil também possui centros respeitados em TI e IA: USP, UNICAMP, UFRJ, UFPE, entre outros. Produzimos talentos de alto nível, muitos dos quais brilham no exterior. Temos criatividade, capacidade de adaptação e espírito empreendedor.

Mas faltou ao Brasil o que sobrou na Índia: visão de longo prazo.

Enquanto a Índia unificava políticas de governo, universidades e setor privado em torno de uma causa estratégica — formar profissionais de tecnologia para o mundo — o Brasil oscilava entre iniciativas pontuais, falta de continuidade e ausência de uma política de Estado na área.

Hoje, a Estratégia Brasileira de Inteligência Artificial (EBIA) dá sinais de avanço. Mas estamos ainda longe de ter algo comparável ao movimento “AI for All” da Índia.

Duas nações, uma lição

Ao refletir sobre minha pequena, mas significativa contribuição à comunidade acadêmica indiana, percebo que ela simboliza algo maior: o valor de enxergar longe, mesmo com recursos escassos; de investir em mentes e não apenas em máquinas; de unir tradição e inovação em prol de um propósito coletivo.

A Índia nos mostra que é possível formar uma geração de engenheiros com ética, espiritualidade e responsabilidade social, mesmo diante de desafios sociais gigantescos. O Brasil também pode — e deve — seguir esse caminho. Mas isso exigirá mais do que tecnologia: exigirá visão, coragem e compromisso com um futuro que sirva não apenas à economia, mas à dignidade humana.

Conclusão: Um chamado à inteligência com propósito

Que este texto seja mais do que uma comparação entre dois países. Que ele seja um chamado. Um despertar.

  • Para líderes de instituições que ainda não enxergaram a centralidade da formação em IA com valores.
  • Para governos que precisam entender que educação tecnológica é soberania.
  • Para jovens brasileiros que sonham em transformar o mundo com código e compaixão.
  • E para todos nós que cremos que inteligência sem propósito é apenas vaidade computacional.

Deus tem levantado vozes e pontes. E talvez, aquele convite inesperado vindo da Índia tenha sido, em sua essência, um lembrete de que o propósito sempre encontra o caminho.

 

CITAÇÃO DESTE Artigo em Português

Título: Brasil e Índia: Dois Caminhos, Uma Lição

• Formato APA:
Vieira, M. F. (2025). Brasil e Índia: Dois caminhos, uma lição – Reflexões sobre tecnologia, estratégia e propósito. Zenodo. https://doi.org/10.5281/zenodo.15385574

• Formato ABNT:
VIEIRA, Marconi Fabio. Brasil e Índia: Dois caminhos, uma lição – Reflexões sobre tecnologia, estratégia e propósito. Zenodo, 2025. DOI: 10.5281/zenodo.15385574. Disponível em: https://doi.org/10.5281/zenodo.15385574

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