Reexaminando os Argumentos para a Existência de Deus
Larry Sanger
11 de fevereiro de 2025.
Nota do editor: Estamos entusiasmados em dar as boas-vindas ao cofundador da Wikipedia, Larry Sanger, como um novo colaborador. O seguinte é um trecho de seu ensaio, “Como um Filósofo Cético Se Torna Cristão”, no LarrySanger.org. Veja também, “Cofundador da Wikipedia Critica Entrada ‘Escandalosamente Tendenciosa’ da Wikipedia sobre Design Inteligente.”
À medida que me vi retornando aos antigos argumentos para a existência de Deus, não bati com a mão na testa e disse: “Oh! Acontece que este é um ótimo argumento! Acho que acredito em Deus depois de tudo!” Mesmo hoje, nego que, individualmente, os argumentos tradicionais para a existência de Deus sejam particularmente persuasivos. Mas comecei a examiná-los em novas versões. Fiquei impressionado com uma palestra do filósofo da ciência e conhecido apologista Stephen Meyer, que apresentou versões do argumento cosmológico e do argumento do fine-tuning (ajuste fino). A ciência diz que o Big Bang foi o início do universo. Mas tudo o que teve um começo precisa ter tido uma explicação. Como este é o início da própria matéria, não pode ter uma causa material; portanto, deve ter uma causa imaterial (seja o que for que isso signifique). Da mesma forma, certas características do universo que são absolutamente necessárias para explicar como as leis naturais fundamentais operam são as constantes físicas. Físicos nos dizem que, se os valores dessas constantes fossem diferentes, várias coisas não poderiam ter acontecido; por exemplo, os átomos não poderiam ter se formado ou as estrelas não poderiam ter se acendido e emitido luz e calor. Mas os cientistas nunca ofereceram uma explicação para essas constantes.
Tive uma nova apreciação por esses argumentos, mas algo ainda me incomodava. Filósofos como Meyer e William Lane Craig pareciam depender do que os céticos chamam de “Deus das lacunas”: a força dos argumentos depende de não haver explicação além do design por Deus. A resposta rotineira a isso é: Talvez alguém eventualmente proponha explicações para essas coisas. Fazer a inferência de que Deus existe com base em nossa ignorância parece um argumento de ignorância (uma falácia): “Não conseguimos entender como isso poderia ser, então Deus quis que fosse assim e ele fez isso.” Isso simplesmente não segue logicamente.
Considere Isso
Mas, após mais consideração, a força da resposta anterior, familiar aos céticos, pareceu desaparecer. Considere isso (pensei comigo mesmo): Existem, é claro, um número infinito de valores para as constantes universais, e como há muitas dessas constantes, uma multiplicidade infinita de combinações. Pode muito bem haver uma explicação, de fato: mas, mesmo que tivéssemos uma explicação em mãos, ela não removeria nosso senso de admiração e maravilha ao examinar o resultado.
Ainda assim, podemos sentir a mesma admiração ao inspecionar qualquer uma das supostas obras de Deus. Eu o incentivo a seguir com isso, pois foi isso que fez toda a diferença para mim.
Da estrutura das galáxias às órbitas dos planetas, do movimento das ondas aos destinos das montanhas, da origem da vida à complexidade do homem — pode muito bem haver uma explicação para essas coisas. De fato, parece insatisfatório dizer: “Deus jogou uma moeda” ou “Deus escolheu um número” ou “Deus simplesmente decidiu que seria assim.” Mas, claro, isso é insatisfatório. Isso mal é o ponto. Aqui está o ponto real: Mesmo que tivéssemos uma explicação científica perfeita para cada uma dessas coisas, a junção dos fatos em nossas explicações parece ser movida por um propósito. Se não pudermos afirmar quais seriam esses propósitos, isso pareceria ser uma alegação meramente supersticiosa, tendenciosa e movida pela religião. Mas os propósitos são claros: As constantes universais permitem a existência do espaço-tempo e a coalescência da matéria, depois estrelas e planetas; certos fatos químicos improváveis são absolutamente necessários para que a vida exista; certos saltos incríveis parecem ter sido projetados para levar a vida na Terra cada vez mais para maior consciência e conhecimento, culminando no homem. Se a própria emergência da ordem parece exibir fins, propósitos ou designs, podemos hipotetizar um designer. Tal designer não trabalharia contra ou dentro da ordem do universo. Isso não é o ponto. Na verdade, tal designer criaria a ordem do universo. Com a possível exceção de milagres, não existem falhas nessa matriz criada, falhas que de alguma forma tornariam mais provável que o designer exista. A estrutura emergente da ordem no universo é o milagre.
Sob essa visão, a presença de “lacunas” misteriosas na matriz causal que só podem ser entendidas por escolhas arbitrárias, não explicáveis por si mesmas, no estilo humano, baratearia nossa ideia de como seria um designer. Como Einstein disse, Deus não joga dados; em vez disso, todas as leis e constantes físicas, bem como as condições iniciais da matéria e da energia, foram escolhidas com o propósito de trazer à existência o incrivelmente racional universo que vemos diante de nós. O designer é a fonte da ordem racional do universo. Se esse ser pode ser dito ter uma “vontade”, essa vontade não substitui as explicações físicas racionais; ao contrário, ele quis todas as explicações físicas, e elas são racionais porque são a obra do logos do universo.
Não Menos que Quatro
Existem nada menos que quatro aspectos tanto das constantes científicas quanto das leis naturais que sugerem que, se tiverem alguma causa, essa causa deve ser espiritual ou de mente.
Primeiro, tanto as constantes quanto as leis são, por assim dizer, ideias ou coisas sujeitas à razão. Temos experiência apenas de mentes produzindo ideias. Segundo, se devemos supor que as constantes e leis têm causas, essas causas novamente não assumiriam a forma de eventos, mas sim de estados sustentadores (atemporais ou eternos) que as explicam. Mas isso sugere que o criador delas seria atemporal ou eterno da mesma forma — novamente, como as ideias podem ser ditas atemporais. Terceiro, qualquer coisa que tenha causado as leis abrangentes e as constantes teria também causado a existência da matéria. Então agora temos um criador eterno, fora do espaço e do tempo, com raciocínio semelhante a ideias sobre o universo que ele cria.
Quarto, há argumentos analógicos em termos dos aparentes propósitos que uma mente poderia ter ao produzir essas coisas. Então dizemos: Se já estamos supondo uma entidade vagamente (não sabe-se como) semelhante à mente para explicar a origem da matéria e as leis e constantes sob as quais ela opera, então parece mais provável que essa entidade tenha propósitos e, parece, que ela projetou não apenas um universo existente, mas sistemas biológicos belos e evolutivos, que parecem particularmente bem ajustados para o florescimento da vida humana, se vivermos sabiamente. Isso sugere um quinto argumento, então. Pode-se bem atribuir benevolência a essa mente divina, eterna, mas desconhecível (ou seja, fundamentalmente misteriosa), considerando que a vida na Terra pode ser ótima se bem vivida.
Este é um resumo bastante condensado; desenvolvi essas ideias de maneira muito mais profunda. Mas além desses detalhes, o que eu refletia mais do que qualquer outra coisa é o fato de que os argumentos, tomados em conjunto, são muito mais persuasivos do que eu havia entendido. Individualmente, os argumentos podem parecer relativamente fracos. Como eu disse, o Argumento da Contingência mostra apenas que um ser necessário existe. O Argumento da Causalidade mostra apenas que o universo teve uma causa fora de si mesmo. O Argumento do Design mostra apenas que o universo tem algum tipo de designer ou outro. Um Argumento Moral pode adicionar que o designer é benevolente, até certo ponto, de alguma forma, mas não necessariamente pessoal. Mas o que acontece quando combinamos todos os argumentos para formar um caso unificado sobre a existência de Deus? Não tenho certeza se a ideia já havia me ocorrido, certamente não com sua vivacidade atual. Tomados juntos, os argumentos apontam para um ser necessário que existe apartados do espaço, tempo e matéria. Esta é a própria causa do universo, que foi projetado de acordo com leis abstratas ordenadas. Propriedades cada vez mais complexas surgem umas das outras, com grande beleza e racionalidade — racionalidade que exibe várias características semelhantes à mente. Esta ordem pode até ser descrita como boa, um cosmos de fato, porque a vida e sua preservação parecem fazer parte do plano, e a vida é o próprio padrão de valor.
Argumento para a Melhor Explicação
Esses foram os argumentos que considerei. E se esses argumentos pudessem ser desenvolvidos com rigor? Perguntei a mim mesmo. O resultado seria um Argumento para a Melhor Explicação: considere todas as premissas de todos esses argumentos como dados a serem explicados. Será que “Deus existe” pode ser a melhor explicação? Pode ser, eu concedi.
Mais ou menos na mesma época em que comecei a ponderar seriamente sobre essas ideias, postei outro ensaio neste blog: “Por que Deus Pode Existir: Um Diálogo sobre Religião Não Natural.” Ele conclui desta forma: “Se a tecnologia de construção de mundos pode existir algum dia, Deus pode existir hoje. E, francamente, essa rejeição do meu argumento Humeano anterior me dá mais razão para reexaminar outros argumentos sobre Deus.”
Crédito da foto: NASA/JPL-Caltech.
Fonte: https://evolutionnews.org/2025/02/re-examining-the-arguments-for-the-existence-of-god/
Tradução voluntária de Marconi Fabio Vieira.
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