Nossas amigas amígdalas!

Por Marconi Fabio Vieira

A amígdala cerebral, que é a região mais amplamente discutida em neurociência e psicologia, é uma estrutura do sistema límbico, importante no processamento emocional e na resposta a ameaças. No entanto, o termo “amígdala” também é utilizado para outras estruturas anatômicas em diferentes partes do corpo, mas com funções muito distintas. Essas outras amígdalas não têm relação com o papel emocional ou comportamental da amígdala cerebral.

Aqui estão alguns exemplos de outros tipos de “amígdalas”:

1. Amígdalas palatinas (ou simplesmente amígdalas)

As amígdalas palatinas são estruturas linfóides localizadas na parte posterior da garganta, uma de cada lado da úvula. Elas fazem parte do sistema imunológico e desempenham um papel importante na defesa contra infecções. Essas amígdalas são mais comumente associadas às “amígdalas” de forma geral, e são frequentemente removidas quando causam infecções recorrentes ou problemas respiratórios.

  • Função: Elas ajudam a filtrar bactérias e outros patógenos que entram pela boca ou nariz.
  • Problemas: Amígdalas inchadas ou infectadas podem causar dificuldade para engolir e respiração prejudicada.

2. Amígdala lingual

A amígdala lingual é uma pequena estrutura localizada na língua, em um contexto anatômico específico relacionado à forma e ao tamanho das papilas gustativas. No entanto, esse termo é bem menos utilizado e não está relacionado ao sistema emocional ou de defesa do corpo, como as amígdalas cerebrais ou palatinas.

3. Amígdala da glândula submandibular

Outro uso do termo “amígdala” refere-se à amígdala da glândula submandibular, que está associada a certas glândulas salivares. Ela é envolvida no processo de secreção de saliva, mas o termo “amígdala” aqui se refere a uma parte do sistema glandular, e não a estruturas ligadas ao sistema nervoso.

4. Amígdala do “corpo caloso” (na anatomia comparada)

Em anatomias de alguns animais, pode haver estruturas chamadas “amígdalas” que possuem funções diversas, relacionadas a sistemas sensoriais ou de defesa. No entanto, esse uso é mais raro e se refere a regiões anatômicas específicas em contextos biológicos comparativos.

Neste artigo abordarei a amígdala palatina.

Amígdalas palatinas

As amígdalas palatinas são estruturas de tecido linfóide localizadas na parte posterior da boca, uma de cada lado da úvula, e fazem parte do sistema imunológico. Elas desempenham um papel na defesa do organismo, ajudando a filtrar microrganismos que entram pelo nariz e pela boca, além de produzirem anticorpos para combater infecções.

Função das amígdalas palatinas no sistema imunológico

As amígdalas palatinas, como mencionei anteriormente, são estruturas linfóides que ajudam a detectar e combater patógenos que entram pela boca e pela garganta, atuando como uma espécie de “primeira linha de defesa”. Elas produzem anticorpos e células de defesa que podem neutralizar vírus e bactérias.

Embora desempenhem um papel importante na imunidade, as amígdalas palatinas não são os únicos órgãos envolvidos na defesa do corpo. O sistema imunológico é altamente redundante e conta com várias outras estruturas e células (como linfonodos, baço, fígado e outras partes do sistema linfático) que podem compensar a remoção das amígdalas.

Impacto da remoção das amígdalas no sistema imunológico

Após a remoção das amígdalas palatinas, o impacto no sistema imunológico geralmente não é significativo. O sistema imunológico do corpo pode continuar a funcionar normalmente, já que outras estruturas, como as amígdalas faríngeas (adenoides) e outros órgãos linfóides, assumem o papel de defesa imunológica. Além disso, o sistema linfático e a produção de anticorpos continuam a ocorrer em outras partes do corpo.

No entanto, em crianças muito pequenas (principalmente menores de 3 anos), pode haver um pequeno impacto no desenvolvimento do sistema imunológico, já que as amígdalas ajudam na “educação” do sistema imunológico em sua fase inicial. Contudo, mesmo nesses casos, a maioria das crianças se recupera bem e continua a ter um sistema imunológico funcional.

O que acontece após a retirada das amígdalas?

  • Compensação pelo sistema imunológico: O sistema imunológico não é “desprotegido” após a remoção das amígdalas. As células de defesa continuam a ser produzidas e distribuídas pelo corpo, e outras partes do sistema linfático assumem as funções das amígdalas.
  • Menor risco de infecções nas amígdalas: Embora a remoção das amígdalas resolva problemas recorrentes como amigdalite crônica ou infecções frequentes, as infecções em outras partes do corpo podem ocorrer, mas não é esperado um aumento significativo na frequência delas após a cirurgia.
  • Proteção em outros locais: O corpo continuará a se defender contra infecções de outras formas, como através das células T e B, que são importantes na resposta imune.

Quando a cirurgia é necessária (amigdalectomia)

Em algumas situações, as amígdalas podem precisar ser removidas em um procedimento chamado amigdalectomia. A decisão de realizar a cirurgia geralmente ocorre quando as amígdalas causam problemas frequentes ou graves. Aqui estão algumas condições que podem justificar a amigdalectomia:

  1. Infecções recorrentes:
    • Quando as amígdalas ficam frequentemente inflamadas ou infectadas, o que causa amigdalite crônica ou repetitiva. A amigdalite pode ser causada por bactérias ou vírus, e quando as infecções são recorrentes (mais de 7 infecções por ano, por exemplo), a remoção pode ser recomendada.
  2. Obstrução das vias aéreas:
    • Se as amígdalas aumentam de tamanho e bloqueiam parcialmente a passagem de ar ou dificultam a respiração, especialmente durante o sono (apneia do sono), a cirurgia pode ser indicada para melhorar a respiração.
  3. Abscesso periamigdaliano:
    • Em casos em que as infecções das amígdalas se espalham para os tecidos circundantes, formando um abscesso (uma coleção de pus), a remoção das amígdalas pode ser necessária.
  4. Problemas de deglutição:
    • Se as amígdalas aumentadas dificultam a deglutição de alimentos, causando desconforto ou dor, a cirurgia pode ser recomendada.

O que acontece durante a cirurgia?

A amigdalectomia é realizada sob anestesia geral, o que significa que o paciente estará dormindo durante o procedimento. O cirurgião usa instrumentos específicos para remover as amígdalas. A cirurgia geralmente dura de 30 a 45 minutos.

Recuperação

A recuperação de uma amigdalectomia pode ser desconfortável, especialmente nos primeiros dias após a cirurgia. O tempo de recuperação varia de pessoa para pessoa, mas em média, leva cerca de 10 a 14 dias. Aqui estão alguns aspectos importantes da recuperação:

  1. Dor e desconforto:
    • Nos primeiros dias após a cirurgia, é comum sentir dor na garganta, que pode irradiar para os ouvidos. Analgésicos, como paracetamol ou ibuprofeno, são geralmente recomendados para aliviar a dor.
  2. Dieta:
    • A alimentação precisa ser suave nos primeiros dias após a cirurgia, com alimentos que não irritem a garganta. Sorvete, pudins, iogurtes, gelatinas e alimentos frios e líquidos são recomendados, já que ajudam a acalmar a garganta e proporcionam alívio. O sorvete é especialmente indicado por ser frio, o que pode reduzir o inchaço e aliviar a dor. Além disso, sua consistência macia facilita a ingestão sem causar irritação.
  3. Hidratação:
    • É importante manter-se bem hidratado, bebendo líquidos em abundância para evitar a desidratação e ajudar na cicatrização.
  4. Cicatrização e cuidados pós-operatórios:
    • Durante a recuperação, pode haver um acúmulo de crostas na área onde as amígdalas foram removidas. Isso é normal, e o processo de cicatrização pode levar de 1 a 2 semanas. Durante esse período, pode ser necessário evitar alimentos quentes, picantes ou crocantes, pois podem irritar a garganta.
  5. Complicações potenciais:
    • Embora as complicações sejam raras, pode haver risco de hemorragia, infecção ou dificuldade persistente em engolir após a cirurgia.
  6. Retorno à rotina:
    • Muitas pessoas retornam às atividades normais dentro de 1 a 2 semanas, mas é importante evitar atividades físicas intensas até que o cirurgião dê autorização.

Sorvete como “cura”

O sorvete pode ser uma ótima opção durante a recuperação por várias razões:

  • Ele é frio, o que ajuda a reduzir a inflamação e a dor.
  • Sua consistência cremosa facilita a ingestão, o que é útil quando a dor ao engolir é significativa.
  • Além disso, o sorvete pode ser uma maneira de garantir que o paciente esteja ingerindo calorias e líquidos, mesmo quando a deglutição é dolorosa.

Nota importante: Embora o sorvete seja benéfico no alívio temporário da dor, é necessário equilibrá-lo com outros alimentos nutritivos para garantir uma recuperação saudável.

As amígdalas palatinas têm um papel importante no sistema imunológico, mas em certas circunstâncias, como infecções recorrentes ou obstrução das vias respiratórias, sua remoção pode ser necessária. A recuperação da amigdalectomia pode ser desconfortável, mas o uso de alimentos frios, como sorvete, pode ajudar bastante no alívio da dor. Como sempre, é fundamental seguir as orientações médicas para garantir uma recuperação tranquila e sem complicações.

Em resumo:

A remoção das amígdalas palatinas não compromete significativamente o sistema imunológico. O sistema imunológico do corpo pode se ajustar e continuar funcionando normalmente, embora as amígdalas desempenhem um papel no início da vida. As pessoas que passam por amigdalectomia geralmente não experimentam um aumento nas infecções após a cirurgia. A maioria das pessoas, especialmente os adultos, não sente nenhum efeito adverso a longo prazo.

Em casos raros, se as amígdalas eram muito importantes em termos de função imunológica (por exemplo, em crianças muito pequenas ou em casos de imunodeficiência), o médico pode recomendar acompanhamento mais próximo, mas, em geral, a cirurgia não afeta de forma significativa a capacidade do sistema imunológico de combater doenças.

 

Referências em Português:

  1. FARIA, João S. História e evolução da cirurgia das amígdalas. Lisboa: Universidade de Lisboa, 2019. Disponível em: https://repositorio.ulisboa.pt/bitstream/10451/43144/1/JoaoSFaria.pdf.

  2. PINTO, Inês. As Amígdalas e o Canto. Lisboa: Universidade de Lisboa, 2019. Disponível em: https://repositorio.ulisboa.pt/bitstream/10451/46794/1/InesIPinto.pdf.

  3. SOARES, Catarina C. Hipertrofia da Amígdala Lingual. Lisboa: Universidade de Lisboa, 2018. Disponível em: https://repositorio.ulisboa.pt/bitstream/10451/41947/1/CatarinaCSoares.pdf.

Referências em Inglês:

  1. GRAINGER, Joe; JONAS, Nico. Pediatric Tonsillectomy. Open Access Atlas of Otolaryngology, Head & Neck Operative Surgery, 2016. Disponível em: https://vula.uct.ac.za/access/content/group/ba5fb1bd-be95-48e5-81be-586fbaeba29d/Tonsilectomia%20pedi%C3%A1trica.pdf.

  2. KENHUB. Tonsilas: Anatomia, histologia e informações clínicas. Kenhub, 2023. Disponível em: https://www.kenhub.com/pt/library/anatomia/tonsilas.

  3. PERRY, M.; WHYTE, A. Immunology of the tonsils. Immunology Today, v. 19, n. 9, p. 414-421, 1998.

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